ATIVIDADE FINAL IV Curso de Mediadores - Edição 2016

Prezados mediadores, leiam os excertos de interações apresentados e discorram sobre o que e como vocês problematizariam,  em sessões de mediação, as questões abordadas pelos interagentes.
Vocês devem comentar pelo menos um dos excertos de interações (obrigatório) e podem interagir com as postagens dos colegas (facultativo), de modo que tenhamos um debate profícuo.
Por favor, assinem seus comentários, caso estejam publicando no modo "anônimo".

Para fins de certificação, a participação no fórum será considerada até o dia  14/09/16, quarta-feira.

CASO 1:

1 Í: ah...deixa eu lembrar um. eu só lembro a história, eu não lembro o nome do filme. era um
2 filme de 5 amigos que iam pra não sei exatamente onde ((risos)) eles ficavam presos num
3 lugar e tinha umas plantas que cresciam dentro deles
4 C: plantas? eh...
5 Í: plantas
6 C: que...não,não, eu sei plantas, mas ah... as plantas cresciam dentro deles? eles tem
7 plantas...?
8 Í: é, é, nascia assim na testa, horrível. enfim, horrível
9 C: sim, é grosso ((querendo dizer “nojento” ou “repugnante”))
10 Í: grosso ((risos))
11 C: grosso não é, não é...((pausa))grosso é que...((procura na internet))oh não, não, não
12 grosso ((risos)) é...é, bruto
13 Í: bruto? não entendo exatamente
14 C: repu..gnante
15 Í: repugnante! ah tá ((risos))
16 C: é repugnante
17 Í: grava essa Carl, grava essa. grosso não...não é uma boa palavra pra isso
18 C: repugnante
19 Í: repugnante
20 C: repu..gnante. gosto dessa palavra ((risos))
21 Í: ela é...não se dizer, ela não é muito usada aqui, entendeu? mas ela é ah...como eu digo? a
22 gente usa mas é uma palavra mais difícil mesmo
23 C: repugnante
24 Í: é
25 C: que é...menos formal?
26 Í: menos formal?
27 C: é,é uma...palavra similar?
28 Í: ah...deixa eu pensar...nojento.((pausa)) essas duas palavras querem dizer a mesma coisa
29 C: no/nojento
30 Í: nojento


CASO 2:


16 D: [...] você prefere ah... o estado de São Paulo ou Natal?
17 R: ah eu prefiro São Paulo. ah é que eu nasci aqui apesar do meu pai morar lá e minha mãe ser de lá nasci
18 aqui então aqui é/é que assim, o nordeste apresenta alguns problemas assim,é... na questão da saúde, da
19 educação, de coisas básicas assim, e/e...por isso eu gosto mais de São Paulo, é um estado que tem mais
20 oportunidades assim, é, por isso que eu gosto tanto
21 D: tem mais coisas para fazer? é...
22 R: tem! tem mais oportunidades...é/é...ah eu sou suspeita assim porque eu gosto muito daqui (risos) mas eu
23 acho que pra você você vai gostar, é uma experiência diferente
(...)

24 R: [...] Eu vou dar uma notícia ruim pra você agora. Você tem vontade de morar no nordeste né, que você
25 falou que você tem vontade de dar aula.
26 D: Sim!
27 R: Então... lá tem alguns problemas com relação à água... é... saneamento básico mesmo, água pra beber, é
28 meio complicado... é meio complicado.
29 D: Sim…
(...)
30 R: É porque assim, apesar de eles [a região nordeste] terem um potencial é... hídrico, eu acho... de água né,
31 questão governamental é difícil lá, é complicado... então é tudo feito muito no... ai como que eu posso dizer...
32 feito meio de qualquer jeito. A gente tem um... meio que uma gíria aqui, quando a gente fala que alguma
33 coisa é mal feita, a gente fala feito nas coxas...
34 D: Sim (risos).
35 R: Então, apesar de ter muitos recursos, tem esses probleminhas assim que é complicado... e água pra
36 beber mesmo, pra cozinhar, pra subsistência, pra comer mesmo... é meio complicado essa questão. Mas o
37 nordeste é um lugar lindo.
38 D: Sim.


CASO 3:

O: oh Rio, oh Rio, a lot of beach, muita praia no Rio
A: como a (cidade estadunidense onde está localizada a UE)?
O: ah ou até melhor assim, mais muito mais praia
A: mais?
O: as pessoas vão muito à praia, ?
A: todos os dias?
O: todas as horas
A: wow ((risos))
O: ((risos)) people free
A: people free? ((risos))
O: ((risos))
A: mais free, mais free que a (cidade onde está localizada a UE)?
O: ah, talvez seja mais free, porque os americanos, vocês trabalham muito, o Brasil trabalha menos, as pessoas vão muito na praia, passear na praia
A: e por quê? por que será?
O: uh é cultura, , é cultura
A: sim, como eu trabalho muito
O: muitos, oh sim, mas no Brasil as pessoas não trabalham muito. então as pessoas têm mais tempo de passear, , e também há muitos americanos no Rio vai encontrar um monte de falantes de inglês no Rio
A: ((risos)) em Rio?
O: ah sim
A: más que São Paulo?
O: mais que em São Paulo
A: oh wow


CASO 4:

1
A: uma pergunta, é ...você segue, não sei se é a mesma palavra em português que no espanhol ...a Farándula?
2
C: como escreve?
3
A: é, ah ...é espanhol (escreve no chat)
4
C:(lê o chat) não sei o que que é ...é espanhol? não, não (risos) sou horrível nessas coisas.
5
A: Não sei porque eu sego ...sego?
6
C: é sigo.
7
A: Eu sigo essas coisas...
8
C: [INCOMPREENSIVEL]
9
A: então, eu vi o casamento do George Clooney na Venezia ...
10
C: Ah,  ...não. Isso eu vi ...ela era bem bonita, ela era uma advogada ...eu  por dentro! (risos)
11
A: (risos) sim, sim ...é engraçado porque a minha mãe também. Agora não sei porque ... seguindo muito ah ...o celebrity gossip ...ah ...
12
C: é ...fofoca ...
13
A: fofoca, como?
14
C: é palavra estranha (risos) é fofoca.
15
A: fofoca, ok?! É então, ela acha ...porque todas pessoas dizem, ah ...o casamento com George Clooney ...então a minha mãe diz que ...diz que ...não, como, como, não entendo como ela, uma pessoa jovem, bonita, profissional vai se casar com um velho. Não ...não importa ...não importa? This it matter?
16
C: não importa.
17
A: não importa que é uma celebridade e um homem, um homem ...sexy ...é um velho...e, e, e também um, um ator que não pode ter um matrimonio. Não são conhecidos por ter matrimônios longos, então minha mãe, minha mãe ...acha que ela é muito para ele.
18
C: Não. Entendi, mas ...não é qualquer cara velho, é o George Clooney (risos)
19
A: (risos) sim ...
20
C: entende? (risos)
21
A: sim (risos)
22
C: (risos) o cara é muito bonito.
23
A: sim, não sei quantos, quantos anos ele tem, mas ele ...ele tem que ter já quase, como cinquenta e tantos anos ...
24
C: mas a mulher não é tão nova assim, era?
25
A: ela tem 35 anos.
26
C: é, são vinte anos, mas é que, eu acho que com 35 anos, você pode casar com George Clooney, tudo bem. (risos)
27
A: (risos) eu sei, é, eles que, ela é super é, é, é gostoso!
28
C: é ...ele? (risos)
29
A: ele.
30
C: ele. Ah tá ...(risos) [INCOMPREENSIVEL]
31
A: ele é super gostoso, mas não sei, talvez muito velho para ela.
32
C: hot?
33
A: sim.
34
C: ok, that's the word. (risos)
35
A: (risos) sim, mas, mas é muito velho para ela.
36
C: é, realmente, mas eu não sei ...tem umas pessoas que não ligam pra isso, por exemplo eu não conseguiria ficar com um cara muito mais velho.
37
A: não, não.
38
C: não, é uma coisa que não entra na minha cabeça.
39
A: não, não e também depois, quando ...ah, os dois ficam mais velhos, quando os dois ficarem ...
40
C: ah, dá muita diferença, né?!
41
A: sim, porque ...é, não sei quando, quando ...como, como se fala let’s suppose?
42
C: é, vamos, deixa eu pensar ...vamos supor que ...
43
A: vamos supor que ...é ...você tem 50 anos e seu esposo tem 70 é uma diferença muito grande, ele vai como ...
44
C: sim, ele vai tá velhinho, né? ...
45
A: ele vai tá velhinho e você vai  como jovem ...ainda.
46
C: é, eu acho que no final, não no final ...é no final da vida, eu acho que faz ...

CASO 5:

G: então, eu... Eu gosto muito do Brasil. Eu acho que agora Brasil está co... num momento muito essencial da sua história.
A: Tá mesmo. Esta num momento de transição.
G: E... e as projeções do poder do Brasil no mundo são... são muito interessante. Uma potencia emergente bastante poderosa. E não sei o que os brasileiros diz sobre isso, não sei o que os brasileiros opinião sobre esso, isso, mas ahm... Isso é a percepção afora do Brasil. Não sei qual é  a percepção dentro do Brasil. O que você acha?
A: Olha. Brasileiro é um povo maio ingrato. A gente sabe que o país tá crescendo, tá emergente, principalmente depois do governo Lula, que você deve conhecer. É... O Brasil teve uma exposição internacional pra fora do Brasil. E... Aqui, a massa intelectual do país, a massa universitária, o pessoal que estudou, o pessoal que conhece um pouco de economia e de política, aqui no Brasil, concorda que o Brasil é uma próxima, próxima potencia, uma possível próxima potencia. Mas a maioria do povão aqui. O Brasil ainda não é um país muito alfabetizado, assim, o pessoal não se interessa muito por cultura, por arte, por política, são poucas as pessoas que se interessam, então. Mas as que se interessam concordam com esse ponto de vista que você é o povão aqui é meio ingrato.
(...)
G: Aqui nos Estados Unidos é um pouco distinto. Ah, eu acho que a gente aqui gosta da política, geralmente, mas não votam muito. O nível da votação não é muito alto. Então... Agora com Obama sim, muitas pessoal foram e votaram, mas normalmente não ocorre isso.
A: Aham.
G: Aqui é uma política é uma carrer.. carreira. Temos políticas profissionais que fazem isso. Nosso congressistas, deputados, ahm... senadores, os governantes... ahm... os governadores. São políticas de carreira, então são profissionais nisso.
A: Aham
G: E o povão mais intelectual sim, tem suas opiniões sobre o que que é melhor para o país, etc, etc. Também! A gente, ah, as pessoas normal tem seu, seus pontos de vistas e participam, no que... A participação civil. Mas acho que nos países da América Latina.
A: É. O pessoal ai já tem uma, já tem uma opinião formada política e essa formação já vem desde pequeno, que o interesse né,
G: Sim
A: exatamente pelo fato da política aí ser levado como carreira, e aqui no Brasil não, qualquer um vira politico do nada, né, então (riso).


Comentários

  1. Olá pessoal! Deixem suas reflexões sobre os excertos aqui nesse espaço destinado aos comentários!

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  2. Olá!

    Como é interessante observar o quanto a cultura, nossas filiações ideológicas e crenças são explicitadas na linguagem. Em cada um dos casos é possível ter um vislumbre da concepção de mundo e da posição ocupada pelo sujeito enunciador, além das vozes que vão constituindo sua identidade.
    Tomando o caso 2, por exemplo. A parceira "R" enfatiza o que ela considera ser a realidade "complicada" de uma região do país que, quase certeza, ela não conhece. Afirmar que no nordeste o saneamento básico é complicado é generalizante e não representa a realidade. Aparentemente a parceira está a descrever um quadro que foi-lhe pintado pela mídia televisiva e que ela aceitou como "verdade" sem qualquer questionamentos. Muito embora afirme que o nordeste "é lindo", fica mais forte na conversa os pontos negativos da região, retratada como um lugar onde há menos oportunidades, saneamento básico precário que dificulta a sobrevivência. As escolhas lexicais que ela faz deixa à mostra um preconceito contra a região, retratando São Paulo como a "terra prometida" onde há não problema com água e as oportunidades são amplas e irrestritas.
    No Caso 3 há um processo parafrástico da imagem do brasileiro como sendo aquele que curte a vida, trabalha menos que o "Americano". Lembrando que a maioria dos professores, por exemplo, trabalha no mínimo 40h semanais para conseguir viver com alguma dignidade.
    De modo que, o que temos nestes casos são afirmações que terminam por sedimentar estereótipos e não contribuem para a aprendizagem intercultural e sequer são um retrato da realidade de um país de dimensões continentais, com uma diversidade cultural muito bela e talvez, rara.
    O contexto de aprendizagem Teletandem poderá nos possibilitar oportunidades únicas para refletirmos mais sobre quem somos e que imagem construimos de nós mesmos para o mundo, se embasada no olhar sobre nossas diferenças ou se uniformizadora como a mídia tem procurado firmar em nossas consciências, afinal somos todos brasileiros "sempre felizes, amantes do futebol e do carnaval".
    Há muito o que se refletir e problematizar. Que bom que temos espaços acadêmicos para discutirmos essas questões e começarmos a ver a alteridade como constitutivas de nós mesmos e como ferramenta libertadora de nossos preconceitos.

    Obrigada pela oportunidade. Sigamos!

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    1. Cara Queila, obrigada por seu comentário. Temos pensado em trabalhar com alguns excertos de interações nas sessões de mediação para problematizar essas nuances que não são apresentadas por meio dos relatos dos interagentes. A identificação de recorrências e o estranhamento diante de situações relatadas podem ser um importante elemento deflagrador de reflexão de construção de identidades e de aprendizagem em teletandem.

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  3. No Caso 5, ficou evidente que o (a) interagente brasileiro (a) utiliza a expressão “a gente” para referir-se a ele (a) mesmo (a) assim como a todas as pessoas de seu país: “A gente sabe que o país tá crescendo [...]”. Nessa perspectiva, Tajfel e Turner (1979) desenvolveram o conceito de ‘identidade social’. Para essa teoria, o ser humano se define pela divisão concretizada entre “nós” e “eles”, o que corrobora um processo de categorização social, por exemplo ‘os ingleses tomam o chá das cinco, ao passo que nós não costumamos fazer isso’, ‘os brasileiros gostam de festas”.
    De acordo com o que eu tenho percebido até o presente momento, considerando meu olhar tanto de pesquisador na área de cultura / interculturalidade quanto de interagente nas sessões de Teletandem, parece-me que quando o interagentes se comunicam, uma vez que são pessoas de diferentes nacionalidades, existe uma tendência marcante de perceber o outro interagente como representante de toda a complexidade cultural de uma nação. Nesta linha de raciocínio, Byram, Gribova e Starkey (2002) sugerem que o foco nas identidades nacionais “reduzem o indivíduo de um ser humano complexo para alguém que é visto como representante de um país ou ‘cultura’” (2002, p.9, minha tradução).
    Assim, considero que no contexto do Teletandem, principalmente na versão atual do projeto intitulada Teletandem: Transculturalidade na comunicação on-line em língua estrangeira por webcam (Telles, 2011), a preocupação com assuntos (inter) (trans) culturais é uma constante. Contudo, no Teletandem, tais assuntos têm lugar, ao que me consta, de forma incidental – ou espontânea. O que me causa, portanto, certa inquietação é o modo pelo qual os questionamentos, debates e conversações são conduzidos pelos próprios interagentes. Dado que para Newton, Yates, Shearn and Nowitzki (2010) interculturalidade envolve uma consciência mais aprofundada acerca da língua e cultura do próprio indivíduo assim como da língua sendo aprendida, penso que, no contexto do Teletandem, a figura do mediador concorre à possibilidade de ajudar os interagentes a descontruir estereótipos assim como padrões arraigados pelo senso comum. A título de ilustração, no Caso 3, a ideia de que o brasileiro supostamente trabalha menos que as pessoas do outro país em tela poderia ser questionada, ou seja, o professor-mediador poderia, no momento destinado à sessão de mediação, convidar os interagentes brasileiros a participar de um momento de reflexão acerca de situações dessa sorte.
    Dito de outro modo, penso que a construção e a negociação de conhecimentos linguístico-culturais no Teletandem não deveria ser sustentada por interpretações simplistas e entendimentos reducionistas sobre o mundo de modo a priori. Desta feita, podemos incluir em nossa prática como mediadores no Teletandem a noção de que recorrente e irrevogavelmente existe uma ideologia dominante que tem o indelével poder de formatar o modo de como as pessoas interpretam os diferentes eventos culturais. Portanto, nós, como professores / mediadores, temos em nossas mãos a escolha de reproduzir ideias dominantes ou de (re)construir / (re)significar esses mesmos sistemas de ideias prevalecentes.
    Alguns questionamentos que tenho: é possível, no momento da sessão de mediação, dar atenção de forma mais individualizada, ou seja, para cada um dos interagentes brasileiros? Como saberemos o que os pares de interagentes discutiram e como essas discussões se desenvolveram? Uma sessão de mediação comum a todos, como é feita usualmente, possibilitaria aos interagentes brasieiros um maior posicionamento crítico nas conversas que serão empreendidas em sessões de interações posteriores? Até que ponto as sessões de mediações podem ser favoráveis à desconstrução de ideias generalizantes no que tange às pessoas/ coisas de um determinado país?
    Concordo que são questionamentos meus um tanto quanto difíceis de serem discutidos. Quiçá futuras investigações que de debrucem sobre esse assunto possam trazer luz a essas indagações.




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  4. PARTE 1:

    BRUNA DA SILVA CAMPOS
    Olá, pessoal!
    Antes de postar minha atividade, gostaria de esclarecer que eu participei do curso integralmente. Coloco esse esclarecimento, pois, minha orientadora, professora Ana Cristina Salomão enviou um e-mail para a organização pedindo para que fosse considerado meio período das participantes da UNESP Araraquara, já que elas estavam em aula. Entretanto, no dia do curso, eu não tinha aulas na pós, e pude participar nos dois turnos! Muito obrigada!
    Ah, também quero agradecer pelas horas que passamos juntos, que compartilhamos experiências e ampliamos nossos conhecimentos!
    Primeiramente, gostaria de pontuar que eu concordo com as considerações feitas pelos colegas Queila e Rodrigo, foram considerações bem elaboradas, pertinentes e vão ao encontro de tudo o que discutimos no curso!
    Acredito, que de uma forma geral, os excertos trazem-nos muitas reflexões acerca do conceito de transculturalidade no ensino de línguas, seja ele via Teletandem, seja ele em uma sala de aula “física”. Em um semestre, como mediadora, me deparei com algumas questões, que estão apresentadas nesses diálogos, e como o conceito de cultura não é o foco da minha dissertação, tais questões não tiveram a atenção devida, a meu ver! Afinal, conforme a Maisa comentou em uma de suas falas, o foco do Teletandem, atualmente, é a transculturalidade, e eu considero um foco totalmente importante, tendo em vista que diálogos como esses ilustram e muito como essa questão está presente nas interações, e muitas vezes, passam despercebidas, como foi no meu caso!
    Como mediadora, ao me deparar com situações como a do caso 2 (Natal x São Paulo), por meio da plataforma Moodle, que os mediadores da UNESP Araraquara, utilizam, questionaria meu interagente brasileiro, sobre como o conhecimento do “problema hídrico” da região nordeste foi adquirido por ele, ou seja, foi ele quem tirou essa conclusão, ou ele está apenas reproduzindo um discurso comum? Afinal, ele mesmo afirma que não morou naquela região, então, de que modo ele sabe dessa situação? Além disso, Natal não é “o nordeste”, tenho a sensação de que há uma generalização, fenômeno muito recorrente na sociedade. Natal, como qualquer outra cidade, pode apresentar problemas hídricos, mas isso não implica necessariamente, que todo o nordeste tem tais problemas. Acredito que por meio de alguns questionamentos como esses, seria possível, conduzir o aluno a refletir sobre as ideias, ideologias que carrega e que dissemina. Por fim, a meu ver, para “amenizar” suas críticas acerca do nordeste, o interagente generaliza que o nordeste é lindo, digo “generaliza”, porque nem toda a região é linda, assim como nem todo o sudeste é lindo, e além disso: o que é lindo? A beleza é relativa. Entendo que deva haver sempre a relativização, a cautela quando fazemos qualquer tipo de comentário, e essa questão também pode ser abordada por intermédio da mediação!

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  5. PARTE 2:

    BRUNA DA SILVA CAMPOS

    Outro caso, que me chamou muita atenção, foi o caso 3, no qual, novamente há uma generalização de que o brasileiro, mais precisamente o carioca trabalha menos do que um norte americano. Mas, até que ponto trabalhar mais ou menos diferencia as atitudes de um indivíduo? Tive a sensação de que o interagente “denegriu” a imagem do brasileiro com essa colocação, mais uma vez generalizada, de que trabalhamos menos, e por isso, passeamos mais, como ele mesmo coloca. Novamente, por meio da mediação, eu poderia questionar o interagente sobre o que o levou a chegar a essa conclusão. Além disso, por que ele acredita que o paulista/paulistano trabalha mais do que o carioca? Porque ele anda mais de terno e gravata? E vive numa “selva de pedra”, que não tem praia? A meu ver, há uma propagação de um discurso pronto, que não propicia a uma reflexão, logo, pela mediação, devemos buscar “quebrar” tais estereótipos.
    Por fim, gostaria de comentar sobre o caso 5, no qual, houve a discussão acerca da opinião do cidadão brasileiro ao que concernem assuntos políticos. Nesse caso, como mediadora, buscaria levar o interagente a refletir sobre algumas questões: o que é ter cultura? Existe uma cultura superior? O que é ser intelectual? Ser intelectual é sinônimo de ter cultura? Não ser intelectual significa não ter cultura? Ser analfabeto leva o indivíduo a não ter cultura? Proporia tais questões, uma vez que o interagente propagou um discurso “feito, pronto”, o qual reporta ao fato de que quem é intelectual tem cultura, bem como quem é analfabeto não tem cultura, mesmo o discurso estando nas entrelinhas. Novamente, nos deparamos com a reprodução de ideologias prontas, e que cada vez mais, se perpetuam.
    Enfim, o papel de um professor, seja de qual disciplina for, e no nosso caso, mais especificamente, de línguas, é levar o aluno a ser um sujeito crítico e reflexivo, que busca compreender o que acontece em sua volta por meio de “n” panoramas, e que assim, consegue se colocar no mundo e fundamentar seus pontos de vista! Fico contente em saber que, projetos como o “nosso” Teletendem, por meio da mediação, podem tornar nossos alunos indivíduos “iluminados”, livres de uma escuridão imposta por discursos prontos e cristalizados!


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  6. GABRIELA CARLOS LUZ

    Sou aluna da UNESP de Araraquara e participei somente na segunda parte do Curso no período da tarde. (Eu e outras colegas tivemos prova no período da manhã, por isso não conseguimos ficar no Curso inteiro). Obrigada!
    Podemos ver no CASO 1 o esforço que os dois interagentes fazem para entender uns aos outros. No Curso foi posto o problema de interagentes brasileiros se sentirem desconfortáveis para corrigir o parceiro e eu concordo que isso seja um grande problema. Sempre vejo isso entre os alunos durante a mediação e quando eu mesma fiz interações eu sofria do mesmo desconforto. Mas aqui podemos ver que a parceira fala de maneira casual sobre a escolha de palavras do aluno americano "grava essa Carl, grava essa. grosso não...não é uma boa palavra pra isso". Por isso ela fala que é melhor usar a palavra "repugnante" mas depois reitera que é uma palavra muito formal para ser usada em conversas e acha melhor ele usar o termo "nojento"
    Outra coisa que eu acho importante discutir é sobre a questão da generalização que também foi discutido no Curso e nessas interações, principalmente os casos 3 e 5, a generalização foi muito usada.
    No Caso 3 o interagente brasileiro fala ao americano que no Brasil as pessoas trabalham menos e por isso sobra mais tempo de ir à praia. Com uma ideia assim, esse esteriótipo é passado para o americano que poderá reproduzir essa ideia e pode até ser visto como rude por outro brasileiro que não acredita na mesma coisa. O que quero dizer é que esse problema da generalização contruibui muito para a construção de esteriótipos brasileiros. Algo que já é construido erroneamente por causa da mídia e acaba irritando muito outros brasileiros. Eu, por exemplo, não concordo com essa ideia que brasileiros trabalham menos e por isso tem mais tempo de ir à praia e acho que ficaria muito triste se escutasse um estrangeiro falando a mesma coisa. O problema é que esse estrangeiro acreditaria estar passando uma imagem certa já que escutou isso vindo de alguém do Brasil e não entenderia minha decepção acerca de sua ideia.
    No caso 5 a generalização está presente também mas passa mais para o lado político. Nas interações que eu monitorei esse primeiro semestre de 2016, política foi o assunto mais abordado pelos interagentes. Mais pela mudança no cenário político brasileiro e as eleições americanas.
    O que eu acho que vale a pena lembrar é que nós, como brasileiros, já temos uma predisposição a falar mal de nosso país e isso acontece muito frequentemente. Vi que durante o Curso foi colocada a proposta do mediador ajudar a tornar essa generalização menos constante porém não sei se essa ideia daria certo. Querendo ou não nós não temos controle do que cada interagente diz e pensa. Eu acho um grande problema generalizar ideias e generalizar uma população inteira, porém, não cabe a mim ou às demais mediadoras e mediadores controlar essas ideias. Podemos dar orientações (até acho necessário) e podemos reiterar que cada opnião ouvida por um parceiro é individual e não representa uma população inteira mas não entendo como isso modificaria as conversas. Se alguém tiver outras ideias sobre como melhorar essas situações eu adoraria escutá-las!
    Obrigada a todos por seu tempo! E muito sucesso em mediações futuras!

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  7. No caso 1, pode-se notar que há um estranhamento do aluno brasileiro quanto ao uso da palavra “grosso” feito pelo parceiro estrangeiro. Este, por sua vez, parece notar o estranhamento e percebe que “grosso” não é a palavra que expressa o que queria dizer, então recorre à internet para procurar outra palavra que se encaixe na situação. O uso de “bruto” gera o mesmo estranhamento, e o estrangeiro recorre novamente a outra palavra, desta vez “repugnante”. O aluno brasileiro, agora compreendendo o que seu parceiro quis dizer, faz uma breve correção e apresenta uma outra palavra que seria apropriada para o que seu parceiro queria expressar, mas aponta que tanto “repugnante” quanto “nojento” podem ser usados.
    O tema da correção é bem delicado, conforme vimos no período da tarde e como foi ressaltado pela Gabriela aqui nos comentários. Depende de como cada um dos participantes lida com o fato de corrigir e ser corrigido. Parece não haver nenhum problema quanto a isso no caso 1.
    No caso 4 também temos correções. Percebe-se que A se sente bem confortável quanto a ser corrigido, já que logo no início pergunta sobre uma palavra, e em seguida busca uma correção de seu parceiro C ao repetir “sego” para certificar-se que está se fazendo entender ou não. Depois também é corrigido e busca correções quando se apoia na língua inglesa para expressar algo, como em “celebrity gossip” (“fofoca”) e “This it matter?” (“não importa”). Assim como no caso 1, o aluno brasileiro estranha o uso de uma palavra, no caso “gostoso”, e se certifica de que era isso mesmo que seu parceiro queria expressar.
    Outro tema que foi discutido no curso foi a generalização. No caso 2, como foi bem pontuado por Queila e Bruna nos comentários, o participante brasileiro fala sobre uma região que não conhece e propaga um discurso apresentado pela mídia, disseminando essa ideia para o participante estrangeiro. O caso 5 também me parece se encaixar em um caso de generalização, no qual ambos os participantes apresentam ideias gerais sobre como os brasileiros e os estadunidenses lidam com a política, sendo que o aluno brasileiro apresenta sua versão baseado na sua própria visão política.
    No caso 3, o aluno brasileiro também repete um discurso de estereotipização sobre o povo brasileiro, que é preguiçoso, “free”, não gostam de trabalhar. Sobre esse caso em particular, me lembrei de quando conversei com uma aluna dos Estados Unidos e perguntei a ela sobre o que eles comem, porque a ideia que eu tinha através de filmes e séries é de que sempre comiam hamburguers e qualquer coisa de fast food, mas isso não me parecia ser algo que eles realmente faziam; ela, por sua vez, me disse que “todos os americanos são gordos e comem isso mesmo”. Fiquei intrigada e não aceitei muito bem essa ideia, então perguntei a ela se ela também era assim e ela me respondeu que não. Ou então de um outro dia em que escutei uma aluna dizer que as pessoas do estado de São Paulo não gostam das pessoas do Rio de Janeiro e vice-versa. Acho interessante que a pessoa que apresenta essas generalizações gerais demais está, na verdade, falando da forma como vê seu povo, mas não se inclui nisso, ou o contrário, isto é, apresenta seu povo como uma extensão de si mesmo.

    VANESSA MATIOLA DE SOUZA

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